O mar em fúria abria-se tenebroso a engolir a proa do navio gigante. Perante a grandiosidade tão bela quanto horrível, os meus olhos de criança aguardaram, sem fôlego, os momentos seguintes. O barco inclinado em descida quase vertical, rumo às profundezas do mar prestes a ser devorado, voltou a subir como que por milagre. A água em fúria bateu ferozmente nas vidraças…
Se tive medo? A mão firme do meu pai era o suficiente para evitar que o medo se apoderasse de mim. Está tudo bem – acabou ele por dizer, quase sem voz, é o Adamastor! Como ele gostava de viver situações limite e fazer passar a mensagem de que era bom apreciar a natureza nos seus limites! Mas certamente não imaginaria o quão terrível seria aquele espetáculo, visto da primeira fila, agarrados ao varão da sala de jantar totalmente envidraçada! Olhei para trás: a sala vazia parecia ainda maior, sem as cadeiras a rodear as mesas redondas, vestidas apenas com saiotes lustrosos. Tudo tinha sido retirado. Tínhamos ido à sala buscar alimentos, apenas um jarro térmico cheio de leite. Afastámo-nos do salão para seguir pelo corredor vazio, cambaleando até ao camarote. Entrámos e ele sentenciou: o momento é difícil. Não poderemos mais sair deste lugar até tudo passar. Será melhor deitarem-se e agarrarem-se às grades das camas. As malas de camarote foram melhor amarradas, porque a previsão dada pelo comandante era a que a situação se ia agravar pela noite adentro.
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