1 – Mulheres entre mundos é o título de uma coleção de narrativas de vida e fotobiografias que será lançada na Biblioteca Municipal José Marmelo e Silva na tarde do próximo dia 1 de fevereiro. Uma iniciativa da Associação Mulher Migrante (AMM), que, desde 2023, tem a sua sede em Espinho, e já antes, aqui fizera parte importante do seu trajeto, a começar por um primeiro encontro mundial de emigrantes portuguesas, em 1995. Por sinal, o maior que até hoje se realizou no país – e já lá vão, exatamente, trinta anos.
Há alguns meses, eu própria levei esse projeto editorial a debate na Assembleia-Geral da AMM, onde foi, sem surpresa, aprovado por consenso. Na verdade, a ideia nem era particularmente original na agenda da associação, que há anos se ocupa na compilação de histórias de vidas no feminino, e tem, nesse campo, um considerável registo bibliográfico. Contudo, na maioria dos casos, não foi muito além da recolha e divulgação de pequenas sínteses biográficas, e por isso, reconfigurar o programa, através de uma coleção, representa um salto qualitativo, com a publicação de livros individuais, testemunhos muito mais completos de feitos e vivências de mulheres na sociedade portuguesa, na sua transição do espaço privado para o público, dentro e fora de fronteiras. Como sabemos, ao longo do século XX, muitas mulheres foram, gradualmente, saindo do estreito círculo familiar, onde a ideologia da ditadura e o atraso de mentalidades e costumes tradicionalmente as confinavam, para competir, de igual para igual (embora geralmente ainda sem armas iguais…), no plano cultural, profissional, cívico e político… Todas elas têm coisas importantes e mobilizadoras para contar (todas, sem exceção), e é preciso que o façam. Todavia, à partida, falar de si, destacando percursos, decisões, obstáculos vencidos para a realização pessoal, no círculo da família e no exterior, não é coisa fácil, em especial para as mulheres que se sentem herdeiras de uma tradição de silenciamento e recato (como diz o tão misógino ditado popular “onde canta galo não canta galinha” …). Além disso, publicar um livro pode a muitas parecer uma meta inatingível….
Com a Coleção, o que se pretende é facilitar, muito pragmaticamente, essa tarefa. Antes de mais, sugerindo o recurso a imagens (que, segundo a sabedoria popular, valem por mil palavras…). Ou seja, optar por uma fotobiografia, em vez de uma mais custosa narração escrita. Podem, assim, começar como quem organiza um álbum de retratos, legendando as imagens, desfiando memórias, ligando ocorrências, em comentários mais ou menos extensos. Depois, a AMM oferece-lhes a inclusão numa linha editorial, com uma bela e expressiva capa concebida pelo Dr. Tiago Castro. Às autoras cabe a livre escolha da gráfica que executará o trabalho – a associação não se dedica a esse tipo de mediação, não procura oportunidades negócio ou de lucro, não cobra qualquer comissão. Assegura, sim, informações, e, através do seu Conselho Editorial, o acompanhamento do processo de elaboração do livro, e da sua divulgação, com o objetivo de revelar vidas significantes de mulheres, com especial enfoque nas que cruzaram fronteiras, tanto geográficas como culturais. Neste campo, nunca serão demais as iniciativas, que, hoje em dia, se estão, felizmente, a multiplicar, em estudos académicos e em projetos editoriais, sinal do crescente interesse por uma literatura de natureza intimista, biográfica ou autobiográfica.
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