1 – Francisco Sá Carneiro nasceu no Porto, em 1934. Teria completado 90 anos no passado dia 19 de julho. Era dez anos mais novo do que Mário Soares, cujo centenário será celebrado, a partir do próximo dia 7 de dezembro. Sá Carneiro e Mário Soares, os fundadores dos maiores partidos da democracia nascente! Cinco décadas depois, PSD e PS ainda repartem o centro político, moderado e reformista, com o voto largamente maioritário dos portugueses. Pelo contrário, à sua esquerda e direita, PCP e CDS iam minguando, enfraquecidos pela concorrência eficiente de formações que foram apareceram (e, algumas, desaparecendo), nas margens do “centrão”. Foi, pois, num contexto de maior equilíbrio de forças que os quatro principais partidos portugueses fizeram história por caminhos abertos pela Revolução, com lideranças de tal modo carismáticas e mobilizadoras, que não poderemos compreender inteiramente as metamorfoses da sociedade e da política portuguesa de então, sem refletir o seu pensamento e a sua ação…
2 – A dia 25 de Abril de 1974, Sá Carneiro estava prestes a completar 40 anos, Soares ia a caminho dos 50, Álvaro Cunhal era já era sexagenário e Freitas do Amaral ainda não tinha feito 33 anos. Este curioso escalonamento de idades é, porém, menos relevante do que outras diferenças, de origem familiar e regional, de perfil, de ideologia e visão estratégica, de empatia com um povo ansioso pela mudança. Diferenças, mas também semelhanças – e não penso na formação académica (eram todos juristas da Universidade de Lisboa), mas na marca das suas qualidades pessoais e políticas na refundação de um regime. Todos eles homens com sentido de missão, norteados por valores, por muito contraditórios que fossem (e eram) as suas mundivisões.
3 – Nas inesquecíveis comemorações do cinquentenário de Abril/74, o foco não esteve nestas quatro personalidades, isto é, na componente civilista da Revolução, mas acho que deveria estar no período restante de programação, até ao seu fecho simbólico em 1976, (no cinquentenário da Constituição da República Portuguesa). Isso não significa desvalorizar a cota-parte dos militares, mas antes abranger, num olhar envolvente, as duas metades do todo. Suponho que a Comissão das Comemorações, constituída, com pompa e circunstância, para oficiar o ritual festivo, não o fará – e, de qualquer modo, o que quer que faça não se nota muito – e os poderes públicos provavelmente também não. Ponho a minha esperança no dinamismo da “sociedade civil”, em ONG e em “fora” de debates, quer tenham, ou não, afinidades com formações partidárias. O momento é asado, com a confluência das três efemérides, que dão título a esta crónica.
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