O aparelho que permitia duplicar cassetes era novidade lá em casa, presente do último aniversário. E tinha uso, ai se tinha! Eram as compilações dos amigos, era o “Use Your Illusion” dos Guns N’ Roses, as explosivas maquetes das bandas de garagem de Espinho: os R.I.P. e os Ophelia (perdoem-me se não se escrevia desta forma). Mas “aquela” cassete estava para lá dos limites e eu sabia disso. Fechei-me no quarto-de-banho, activei a função de “high speed” para minimizar o risco de ser apanhado e comecei a gravar o “Rock Radioactivo” dos Mata Ratos.
Ouvir música com mais asneiras por frase do que seria aceitável, espreitar uma edição recessa da icónica revista Gina, usar o tempo de uma aula cancelada para, com o grupo de amigos, ver os primeiros filmes pornográficos – as portas fechadas da puberdade nos anos 90 faziam-se disto, uma rebeldia controlada e que, acima de tudo, dificilmente fugia ao conhecimento dos pais. As gerações anteriores (bem com as imediatamente a seguir) tinham vivenciado experiências muito semelhantes, ligeiramente mais para a esquerda ou mais para a direita, mais descoberta menos descoberta.
Nos últimos tempos, porém, tudo mudou: quando fecham a porta do quarto, os adolescentes de hoje abrem a porta do mundo. De um mundo que os mais velhos não percebem nem conhecem. Talvez seja a primeira vez que isto acontece desde há muito: como pode haver choque geracional quando não se entende, sequer, o que se passa do lado de lá?
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