A sessão da tarde do julgamento dos envolvidos na Operação Vórtex iniciou-se com o atraso de quase uma hora. Uma pausa de almoço mais longa devido ao facto de dois juízes do coletivo terem uma outra sessão, em fase de alegações finais, com arguidos que se encontravam em prisão preventiva.
Francisco Pessegueiro continuou a ser interrogado pela acusação. A procuradora do Ministério Público começou por falar de contratos assinados pela empresa de construção da família Pessegueiro, lembrando que a 1 de julho de 2022 foi assinado um contrato-promessa de compra e venda entre a Construções Pessegueiro e uma sociedade gerida por Paulo Malafaia para o projeto da 32 Nascente. Foram, no entanto, as declarações de Pessegueiro, após ser detido, que acabaram por ser o centro do depoimento do arguido durante a tarde.
Francisco Pessegueiro havia confirmado que pagara 50 mil euros a Miguel Reis a 21 de dezembro de 2022. “Encontramo-nos no 20 Intensus, aquilo faz uma zona de galeria, tem uma coisa de arranjos. Eu levava isso comigo e entreguei num saco normal, acho que era dos talhos. Fui buscar ao cofre e entreguei-lhe. Levantei 50 mil euros dias antes para fundo de caixa do cofre, no início de dezembro. Tirei o dinheiro que estava em montinhos e meti no saco”, ouvia-se na gravação das declarações de Pessegueiro após ser detido.
“O dinheiro no cofre ainda tinha as cintas agrupadas, eram notas de 50 euros em montinhos de cinco mil euros. Cada montinho tinha a sua cinta. Meti dentro de quatro ou cinco sacos do talho, fechei e entreguei-lhe”, dizia, ainda.
Após a audição das gravações, Francisco Pessegueiro explicou no tribunal que, afinal, foi o pai que levantou os 50 mil euros e que nunca viu o dinheiro.
Agora, perante o coletivo, Francisco Pessegueiro negou que havia entregue os 50 mil euros a Miguel Reis: “Esses 50 mil euros foram levantados, volto a dizer que não foram entregues por uma mera casualidade”, disse o arguido, acrescentando que “o 20 Intensus tem câmaras e não há imagens desse dia”.
“Se tivesse entregue diria”, declarou, acrescentando: “Estou a dizer a verdade, na altura estava preso, sem ver as minhas filhas e disse aquilo. Em boa verdade na altura menti, mas estou aqui para agora a dizer a verdade. Tinha o dinheiro para lhe entregar, mas não lhe dei”, explicou.
Pessegueiro confirmou que a 21 de dezembro 2022, o presidente da Câmara, Miguel Reis o convidou para tomar café, mas que nessa altura não teve hipótese de entregar o dinheiro. “Eu tinha uma dívida com ele, ele tinha os projetos prontos, ao contrário do Pinto Moreira que nunca fez nada. Tinha de o fazer num curto espaço de tempo ou também era riscado da Câmara”, contou.
A terceira sessão do julgamento Vórtex terminou cerca das 17h00 e as duas próximas sessões já estão agendadas para 17 e 18 de outubro.
Francisco Pessegueiro ainda vai continuar a ser interrogado na próxima sessão, uma vez que ainda não respondeu a todas as perguntas do coletivo de juízes, do Ministério Público e dos advogados.